sábado, 28 de fevereiro de 2009

Vale a pena pagar mais por alimentos orgânicos?

Os adeptos da culinária saudável já estão cansados de saber dos benefícios dos alimentos orgânicos - aqueles cultivados e produzidos sem o uso de aditivos químicos e agrotóxicos. Infelizmente, investir 100% nesse tipo de frutas, legumes, folhas e até sumos e carnes ainda é muito caro e é privilégio de poucos.

Um bom começo para começar a mudar os hábitos à mesa, sem pesar muito no bolso, seria substituir os campeões em agrotóxicos por versões orgânicas. De acordo com a nutróloga Lívia Zimmermann, o consumo diário dessas substâncias nocivas pode intoxicar o organismo, criando um "ambiente" propício ao desenvolvimento de doenças - desde alergias até o câncer a longo prazo. "Há, inclusive, estudos que sugerem que os aditivos químicos, principalmente os corantes encontrados em alimentos industrializados, podem ter relação até com distúrbios psicológicos", alerta Lívia, membro da directoria da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran).


Reveja a sua lista do supermercado

Comer uma salada de tomates, hoje, pode ser uma aventura, graças ao nível de contaminação dessa fruta - que aparece nas feiras, cada vez maior e mais vermelha (como um típico efeito do uso de agrotóxicos). "A dona de casa mais atenta pode observar uma película meio esbranquiçada na casca do tomate. É o sinal da presença dos aditivos químicos", explica a nutróloga Lívia Zimmermann.

Trocar o tomate convencional pelo orgânico, portanto, pode valer a pena, especialmente no prato das crianças. Sabe-se que os efeitos dos agrotóxicos são cumulativos - por isso, de acordo com os especialistas, o quanto antes acabarmos com boa parte desse contacto, melhor.

O tomate é o dos piores, mas entre os reis da contaminação ainda estão o morango, a melancia, o melão, a abóbora, enfim as frutas rasteiras, além das verduras (legumes e folhas). No geral, nos cultivos tradicionais, esses alimentos recebem uma quantidade grande de químicos, por serem mais susceptíveis à acção de pragas, como as ervas daninhas.

Segundo Fernanda Pisciolaro, nutricionista Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso), os cuidados devem ser redobrados com alimentos que se come com a casca e com aqueles que não têm casca (por ex. morango). Nem as carnes vermelhas escapam dos alimentos que merecem atenção (e que poderiam ser substituídos por uma versão orgânica). As hormonas de crescimento e antibióticos usados na criação bovina podem causar prejuízos ao organismo. Isso não ocorre com a carne orgânica, resultado de um gado criado em pasto orgânico, com alimentação orgânica.


Ganhos na qualidade e no sabor

"O agrotóxico deixa o morango com gosto de acetona. A fruta orgânica é bem diferente, muito mais saborosa", completa Raquel Diniz, coordenadora do Instituto Akatu, uma organização não-governamental que busca estimular o consumo consciente e sustentável.

José Pedro Santiago e Alexandre Harkaly, directores da associação de certificação de orgânicos, o Instituto Biodinâmico (IBD), garantem que os alimentos orgânicos contêm uma concentração mais elevada de nutrientes. Para confirmar o que dizem, eles relembram de que de 41 estudos científicos divulgados, em 2005, pela Soil Association, da Inglaterra, atestavam uma presença maior de vitamina C, magnésio e fósforo nos orgânicos.

"A laranja, por exemplo, contém 12% mais vitamina C e menos resíduos de nitratos em relação à convencional", comenta José Pedro. Essa maior concentração de nutrientes, segundo o especialista, pode ser vista também no leite orgânico, que apresenta maior quantidade de cálcio e vitaminas.


Reconheça um alimento orgânico

Para ser considerado orgânico, o alimento deve seguir alguns padrões essenciais de plantio e colheita. De início, nada de agrotóxicos ou agentes químicos, como os pesticidas, para "reforçar" a terra e evitar pragas e ervas daninhas.

Normalmente, os produtos vendidos em supermercados apresentam um selo de certificação, desde que tenham, no mínimo, 95% de ingredientes orgânicos. "Para certificar um produto, seguimos directrizes que vão da produção primária à industrialização, armazenamento e transporte do produto. Além de questões de conservação do solo", afirma Alexandre Harkaly, director do IBD. O selo vale tanto para frutas e vegetais, quanto para lacticínios e carnes.

Mas, se tem o hábito de frequentar feiras e mercados próximos da sua casa, tenha em atenção: alimentos orgânicos tendem a ter um aspecto mais feio. Isso reflecte tanto no tamanho da fruta, quanto na coloração. Portanto, se você não quer abrir mão dos tomates "vermelhões" e gigantes, porém cheios de agrotóxicos, nem passe perto das prateleiras orgânicas. Ali, a fruta é menor e de um vermelho mais discreto.

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